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ENTRETENIMENTO

80 Artigos - Categoria MOTIVAÇAO
65 - O VASO QUEBRADO
Fonte: Zuuc
Numa vila de ruas de pedra e janelas azuis, vivia um oleiro chamado Manuel. Suas mãos tinham o cheiro seco do barro e os dedos eram mapas de sulcos deixados por anos ao modelar tigelas, potes e vasos. Dizia-se que ele conseguia extrair do barro algo que parecia guardar memórias — formas que não eram apenas úteis, mas capazes de dizer histórias a quem as olhasse.

Certa tarde, uma jovem chamada Helena entrou em sua loja trazendo um vaso antigo, herdado de sua avó. Era uma peça de linhas simples, toda marcada pelo tempo: a pintura desbotada, pequenas lascas e, ao centro, uma grande rachadura que dividia o corpo do vaso como um rio seco. Helena o colocava sobre o balcão com cuidado e os olhos marejados.

— Este vaso — disse ela, ajeitando o pano que o envolvia — sempre esteve na casa da minha mãe. Quebrou no dia em que meu pai foi embora. Guardei-o como quem guarda silêncio. Agora que minha mãe se foi, não sei se devo jogar fora ou tentar consertar. — A voz de Helena tremia, não pela fragilidade do objeto, mas pelo peso da lembrança.

Manuel olhou longamente para o vaso, leu nas fissuras a história de uma família, e respondeu com compostura:

— Nem tudo que se parte perde seu valor. Há vasos que, depois da cura, contam mais que quando chegaram ao oleiro. Se me permite, posso tentar pôr de novo as peças juntas.

Helena hesitou, como quem teme que o gesto de restaurar seja também um modo de reviver a dor. Mas concordou e deixou o vaso com Manuel. Durante semanas, o oleiro trabalhou com paciência. Não usou apenas cola e massa; primeiro, limpou cada pedaço, retirou poeira de velhas mágoas, alinhou as partes com cuidado, e costurou as falhas com uma técnica antiga que aprendera com seu pai: em vez de esconder as rachaduras, ele as acentuava com um fio dourado — não para disfarçar, mas para realçar as linhas que o tempo desenhara.

Quando Helena voltou, Manuel tinha o vaso pronto. Era o mesmo objeto, porém transformado. As marcas estavam ali, mas agora bordadas por veios dourados que brilhavam como cicatrizes de luz. Helena tocou a superfície, as mãos tremendo, e uma lágrima solitária rolou-lhe pela face.

— Está ainda mais belo — murmurou ela. — Parece que a dor ganhou outra voz.

— A dor não some — explicou Manuel —, mas pode se tornar parte de algo maior. Quando entalhamos a vida para ocultar as quebras, deixamos de ver a poesia que existe na junção das partes. O ouro não tapa; ele reconta.

Helena levou o vaso para sua casa e o deixou no centro da mesa da sala. As visitas notavam a peça e comentavam. Alguns perguntavam por que o oleiro havia colocado ouro nas rachaduras; outros achavam que fora um capricho moderno. Mas aqueles que sabiam da história da família inclinavam-se com respeito e, por vezes, contavam suas próprias quedas.

Com o tempo, a mesa onde o vaso repousava tornou-se ponto de encontro. Amigos que antes evitavam falar do dia em que o pai partiu agora sentavam-se e, diante do vaso dourado, contavam memórias, perdoavam, e riam de pequenas tolices que antes consumiam. O vaso, curado, ensinara sem palavra que as rachaduras podem ser mapas; que os caminhos por onde passou o sofrimento também são rotas para a lembrança e para o encontro.

Anos depois, quando Helena já envelhecera, uma jovem neta pediu para ver o vaso da avó. Ao tocá-lo, notou as linhas douradas e perguntouse o porquê daquele brilho. A neta ouviu a mesma história que ouvira da mãe e da avó: como o objeto quebrou no dia de uma angústia, como foi guardado por temor, e como, finalmente, foi entregue ao oleiro que costurou as marcas com ouro.

— Por que não cobriram aquilo? — perguntou a menina, curiosa.

— Porque — respondeu Helena, com voz mansa — não quisemos fingir que nada aconteceu. Preferimos aprender com o que se quebrou. O ouro nos lembra que fomos curados, não apagados. Ele nos ensina a olhar as cicatrizes com ternura e a descobrir que, mesmo partidas, as coisas podem brilhar de novo.

A história do vaso atravessou gerações na vila e logo mais objetos recebiam o mesmo cuidado: fotografias remendadas com fitas, móveis riscados que viravam móveis de memória, cartas amareladas preservadas em envelopes novos. Manuel, vendo isso, sorria. O oleiro sabia que não era o ouro que fazia a diferença, mas o gesto de aceitar o que havia sido perdido e transformar o remendo em arte.

Numa manhã, velho e cansado, Manuel sentou-se à porta da loja enquanto um jovem entrou com um jarro partido. O rapaz falou sobre uma traição que o dividira; seus olhos refletiam o mesmo medo que outrora vira em Helena. Manuel falou, então, com a calma que o barro lhe ensinara:

— Não demandes apagar as sombras. Costura-as com cuidado. Faz do teu remendo um selo de coragem. A vida, quando reparada, ganha histórias que, de outra forma, não teria como contar.

O jovem saiu com o jarro nas mãos, já imaginando as linhas que um dia o fariam brilhar de novo.

Lição: As cicatrizes do amor não diminuem o valor do que foi; podem, se bem tratadas, aumentar sua beleza. Não esconda as quebras — acolha-as, aprenda com elas e transforme-as em sinais de resiliência. O reparo, quando feito com verdade, torna a lembrança mais rica e o afeto mais profundo.

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66 - A PONTE SOBRE O ABISMO
Fonte: Zuuc
Havia, em terras antigas, duas aldeias separadas por um profundo abismo. O desfiladeiro era tão largo que o eco da voz demorava a voltar, e tão fundo que o olhar não alcançava o fundo pedregoso. Durante gerações, os moradores de um lado e do outro aprenderam a viver sem atravessar: trocavam olhares desconfiados à distância e criavam histórias de medo sobre os vizinhos que jamais conheciam de perto.

Num dos povoados vivia um jovem chamado Samuel, filho de um carpinteiro. Era curioso e não aceitava viver de rumores. Muitas vezes, sentava-se na beira do abismo e imaginava como seria o outro lado: as casas, as pessoas, os costumes. Seu pai, cansado de suas perguntas, dizia sempre:

— Filho, esquece isso. Esse abismo está aí para nos separar. Assim foi e assim será.

Mas Samuel não se conformava. Certa manhã, levando apenas ferramentas simples e alguns troncos de madeira, desceu até a beira mais estreita do desfiladeiro e começou a trabalhar. Enquanto todos riam e zombavam, ele cortava, pregava e ajustava tábuas. Dia após dia, voltou ao mesmo lugar. Suas mãos criaram calos, suas costas doíam, mas o desejo de unir o que estava separado era maior do que o cansaço.

Do outro lado, uma jovem chamada Ester observava. Também sentia a mesma inquietação: não queria viver do medo herdado. Um dia, tomou coragem, desceu até a margem oposta e começou a ajudar o desconhecido. Samuel e Ester não podiam ainda se tocar, mas trocavam sorrisos e gestos. Cada tábua colocada era um pedaço de confiança, cada martelada era uma esperança pregada no vazio.

Muitos zombaram deles: — Vocês vão cair! Esse esforço é inútil!

Outros os chamavam de traidores, dizendo que não deviam se aproximar de “inimigos”. Mas os dois continuaram, acreditando que o amor e a amizade eram mais fortes que os ecos de desconfiança. O trabalho durou semanas. Até que, numa tarde em que o sol tingia o céu de vermelho, a última tábua foi fixada. Samuel atravessou primeiro, hesitante, mas firme. Do outro lado, encontrou Ester e, pela primeira vez, deram-se as mãos.

Os aldeões, incrédulos, viram dois jovens de lados opostos caminharem juntos sobre a ponte recém-nascida. E, como a coragem também é contagiosa, outros começaram a atravessar. No início, com medo, depois, com alegria. Mercadorias passaram a ser trocadas, famílias a se conhecer, amizades e até casamentos nasceram do gesto simples de não aceitar o abismo como sentença eterna.

Anos depois, quando Samuel e Ester já estavam velhos, sentaram-se sobre a ponte que haviam construído. Crianças corriam de um lado para o outro, sem nem imaginar que antes ali só havia silêncio e medo. Samuel olhou para a companheira e disse:

— O abismo ainda existe. Mas a ponte nos ensinou que não precisamos cair nele. O amor e a confiança podem ligar até o que parece impossível.

Ester sorriu, apertando-lhe a mão enrugada:

— Toda vez que alguém escolhe perdoar, compreender ou se aproximar, uma nova tábua é colocada nessa ponte. Que ela nunca deixe de crescer.

Lição: O abismo entre as pessoas pode parecer intransponível, mas o amor, o perdão e a coragem de dar o primeiro passo constroem pontes. O que separa pode continuar existindo, mas a escolha de atravessar transforma distâncias em encontros.

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67 - O POÇO E A FONTE
Fonte: Zuuc
Em uma aldeia cercada por montanhas e campos secos, havia um poço antigo e uma fonte clara. O poço, escavado há gerações, servia para aqueles que buscavam água quando o calor castigava a terra. A fonte, por outro lado, brotava de uma nascente, sempre limpa e fresca, mas distante do vilarejo. Muitos moradores passavam horas indo até a fonte, enquanto outros se contentavam em puxar água do poço, que nem sempre estava cheia.

Um jovem chamado Lúcio cresceu aprendendo com o pai a buscar água no poço. Era o que todos faziam; era seguro e conhecido. Mas Lúcio, curioso, sentia algo chamando-o para a fonte distante. Um dia, resolveu caminhar até lá. O caminho era íngreme e cheio de pedras, e muitos diziam que era inútil, que o poço já bastava. Mas ele insistiu, e ao chegar à fonte, sorriu diante da água cristalina que refletia o céu azul.

Lúcio trouxe a água da fonte de volta à aldeia em pequenos cântaros e ofereceu aos vizinhos. Alguns aceitaram, maravilhados com a pureza e o frescor; outros zombaram e disseram:

— Para que arriscar tanto esforço, se temos o poço logo ali?

Ele então explicou, com paciência: — O poço nos serve, mas a fonte nos dá algo mais. Quem busca apenas o conhecido pode sobreviver, mas quem se esforça para ir além, encontra vida em abundância.

Com o tempo, mais aldeões se aventuraram até a fonte. Aprenderam que a água do poço, limitada e escassa, era apenas um começo; a fonte, generosa e constante, simbolizava o conhecimento, a bondade e o amor que só se encontram quando se busca além do óbvio. Cada viagem à fonte fortalecia não apenas o corpo, mas também a mente e o coração.

Lúcio, já velho, sentava-se à sombra de uma árvore próxima à aldeia, observando crianças brincarem e pessoas caminharem até a fonte. Sabia que cada passo até lá era uma escolha: permanecer na rotina confortável do poço ou aventurar-se em direção à fonte, onde a vida se renovava. E sorria, porque quem escolhia a fonte aprendia que a abundância não está apenas no que se recebe, mas também na coragem de buscar.

Lição: O poço nos dá o suficiente para sobreviver, mas a fonte oferece vida plena. Buscar o que está além do conhecido exige esforço, mas recompensa com pureza, abundância e sabedoria. O verdadeiro tesouro está na coragem de ir além do que nos é fácil.

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68 - A LUZ DA JANELA
Fonte: Zuuc
Em uma pequena vila cercada por montanhas e neblina, havia casas alinhadas em ruas estreitas e sinuosas. À noite, quando o silêncio se espalhava e o vento soprava entre as paredes, as janelas iluminadas eram como faróis de esperança. Entre essas casas, vivia um homem chamado Artur, simples e discreto, que mantinha sempre acesa uma pequena lâmpada sobre a mesa da sala, mesmo quando não havia visitas.

Do outro lado da rua, morava Sofia, uma jovem que enfrentava tempos difíceis. A vida a havia deixado solitária: sua família estava longe, e a tristeza pesava sobre seu coração como um manto escuro. Muitas noites, ela permanecia acordada, sentada à beira da cama, sentindo o peso da solidão e da insegurança. Uma dessas noites, ao olhar pela janela, percebeu a luz constante da casa de Artur. A luminosidade era pequena, mas persistente, um ponto de calor no mar de trevas.

Sofia começou a esperar por aquela luz todas as noites. Não conhecia Artur pessoalmente, mas sentia que aquela presença silenciosa trazia conforto, como se dissesse sem palavras: “Não estás só”. Havia noites em que chorava, outras em que apenas suspirava, mas a luz da janela sempre a lembrava de que havia vida além da escuridão que a envolvia.

Um dia, a curiosidade a fez atravessar a rua. Bateu à porta de Artur e foi recebida com um sorriso humilde e caloroso. Conversaram pouco; na verdade, não era necessário. Sofia percebeu que a luz da janela nunca tivera a intenção de ajudá-la, mas o efeito de seu gesto simples iluminara sua alma de maneira inesperada. Artur, sem saber, tornara-se farol de esperança.

Nos meses seguintes, Sofia aprendeu a manter sua própria luz acesa. Inspirada pelo gesto silencioso do vizinho, passou a cuidar melhor de si mesma, a estender a mão a outros e a perceber que pequenos atos de constância e bondade podem transformar vidas, mesmo quando parecem insignificantes. A luz da janela, antes apenas um ponto de calor na rua escura, tornou-se metáfora viva do poder de iluminar o mundo ao nosso redor sem perceber.

Lição: Às vezes, nossa presença constante e silenciosa pode iluminar a vida de alguém, mesmo sem intenção. Pequenos gestos de cuidado e atenção, como uma luz acesa na escuridão, têm o poder de aquecer corações e despertar esperança.

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69 - O ANEL DO REI
Fonte: Zuuc
Há muito tempo, em um reino distante, vivia um rei sábio chamado Leandro. Ele possuía um anel simples, de ouro envelhecido, que usava todos os dias. Diziam os conselheiros que aquele anel guardava um segredo que ensinava a suportar as tempestades da vida, mas ninguém sabia exatamente como.

Certo dia, um jovem príncipe chamado Henrique, filho de um nobre vizinho, chegou ao castelo. Inquieto e ansioso, perguntava sobre a dor e a alegria, tentando entender como suportar os altos e baixos da vida. Ao notar a ansiedade do rapaz, o rei chamou-o para caminhar pelos jardins do palácio.

— Henrique — disse o rei, segurando a mão do anel —, veja este anel. Ele tem um segredo. Mas não é mágico como muitos imaginam. Ele me lembra todos os dias que nada é permanente: nem a dor, nem a alegria. Cada sentimento é passageiro, como o vento que atravessa estas árvores. — E apontou para os salgueiros que dançavam com a brisa.

O príncipe olhou, confuso: — Mas, Majestade, como podemos lidar com tanta dor, quando ela parece nos esmagar?

O rei sorriu e contou-lhe uma história: — Há muitos anos, este reino enfrentou uma grande seca. O rio secou, a colheita falhou e o povo estava aflito. Eu, jovem então, sentia um desespero tão profundo que acreditava que a tristeza nunca acabaria. Mas o tempo passou. A chuva voltou, as plantações renasceram e o riso voltou às praças. Aquela dor, que parecia eterna, deixou de existir. O anel me lembra disso: assim como a alegria desaparece, a tristeza também não dura para sempre.

Henrique ouviu atentamente, percebendo que a vida era feita de ciclos. O rei continuou: — Nunca se apegue excessivamente ao que te faz sorrir, nem se entregue totalmente ao que te faz chorar. Ambos são passageiros. Aprender a observar, sem se perder, é a sabedoria do anel. Ele não impede que sintamos; apenas nos lembra que o tempo transforma tudo.

O jovem príncipe segurou o anel, sentindo seu peso e a leveza ao mesmo tempo. Compreendeu que a vida exigia paciência e coragem. Que as dores que hoje parecem esmagadoras, amanhã podem ensinar e fortalecer; que as alegrias que nos fazem levitar também passarão, e devemos aproveitá-las sem apego cego.

Anos depois, Henrique se tornou um líder sábio, lembrando sempre do conselho do rei Leandro. Guardava consigo a lembrança do anel e a certeza de que, mesmo nos momentos mais difíceis, o tempo continuaria seu curso, e a vida, com todas as dores e alegrias, sempre passaria, deixando ensinamentos e memórias.

Lição: Tudo na vida é passageiro. Tanto a dor quanto a alegria passam, e a sabedoria está em aprender a observar, aceitar e valorizar cada momento sem se apegar excessivamente, confiando que o tempo trará transformação e equilíbrio.

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